sábado, 3 de setembro de 2011




Dize-o à Igreja








O texto do evangelho deste XXIII Domingo Comum (cf. Mt 18,15-20) é muito importante e, no entanto, presta-se a mal entendidos...

Para bem compreendê-lo é necessário ter em mente que ele faz parte do capítulo 18 de São Mateus, que nos traz o Discurso sobre a Igreja. Aí Jesus nos fala sobre alguns aspectos da vida daquela comunidade de discípulos que ele fundou, alicerçada nos apóstolo, tendo como sinal visível da unidade o apóstolo Pedro.

Só para verificar, dê uma lida, meu Leitor, nos tópicos deste capítulo: (1) Quem é o maior? (2) A questão dos escândalos na comunidade, (3) A ovelha perdida, que se afastou da comunidade escandalizada, (4) A correção fraterna, (5) O perdão das ofensas... Compreende? São todos temas que dizem respeito à vida no seio da comunidade que Jesus fundaria com sua morte e ressurreição. É nesta perspectiva que deveremos agora ler o evangelho deste Domingo.

Naquele tempo, Jesus disse a seus discípulos: 15“Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, a sós contigo! Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão. 16Se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas. 17Se ele não vos der ouvido, dize-o à Igreja. Se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja tratado como um pagão ou um pecador público”.

Muito formativo e até surpreendente, este texto! Jesus, que é tão misericordioso, benigno e compassivo, não tolera o pecado, a ofensa mantida e alimentada, a impunidade e o acobertamento do erro na sua Igreja. Se o irmão pecar (pode ser o pecado de ofender a alguém, de prejudicar de modo grave e contínuo a um irmão, mas também, com certeza, o pecado que gera escândalo e mal estar na comunidade) deve ser corrigido. Recorde, meu caro, que corrigir caridosa e respeitosamente os que erram, muitas vezes com uma boa e humilde conversa, é uma das obras de misericórdia. Não deveríamos nos omitir diante do erro. Deveríamos exercitar a correção fraterna, como o Senhor Jesus nos ensinou. Mas, observe a gradação que o Senhor nosso estabelece: primeiro uma conversa caridosa; depois, caso não surta efeito, uma conversa com mais de uma pessoa. Finalmente, caso o irmão continue firme no seu erro e no seu pecado, deve-se recorrer “à Igreja”, isto é, àqueles que na comunidade têm a autoridade de Cristo para discernir e julgar tais situações. Quem são esses? Primeiramente o Bispo na sua diocese e, em certa medida, o padre na sua paróquia. Para a Igreja universal, o Papa, enquanto Sucessor de Pedro e pastor da inteira Igreja de Cristo. Note que em tudo isto o propósito sincero deve ser um só: “Se ele te ouvir, ganhaste o teu irmão!” Isto mesmo: salvar o irmão, recolocando-o no bom caminho, seja da doutrina reta, aquela católica e apostólica, seja no bom procedimento da moral cristã.

No entanto, se ainda assim o irmão persistir no seu erro, obstinado na sua cegueira e soberba, os ministros da Igreja devem separá-lo da comunidade, tirá-lo da comunhão dos irmãos (= excomungá-lo): “Seja tratado como um pagão ou um pecador público”, isto é, como alguém que não pertence à Igreja, que está fora da comunhão (= ex-comungado). É este o sentido da excomunhão: alguém ser declarado fora da comunhão visível da Igreja de Cristo! Note que o próprio Jesus determina que assim se proceda em caso de contumácia!

Mas, continuemos:

“18Em verdade vos digo, tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu. 19De novo, eu vos digo: se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que quiserem pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está nos céus. 20Pois, onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles”.




Observe que Jesus dá a toda a Igreja o poder das chaves, isto é, o poder de ligar e desligar, ou seja, o poder de punir (ligar) e suspender a punição (desligar). Esse poder que é dado a Pedro de modo particularíssimo, pois é o pastor supremo da Igreja de Cristo (cf. Mt 16,19), ele o dá à Igreja como um todo, de modo que, na medida própria ao ministério de cada um (do Bispo na sua diocese, do padre na sua paróquia e dos legítimos superiores religiosos na sua ordem ou congregação) tal autoridade seja exercida em nome da Igreja. É muito importante compreender isto, pois vê-se claramente que não tem nenhum fundamento aquela visão de uma Jesus bonzinho, que pregaria uma caridade sem verdade, uma misericórdia sem exigência de retidão e conversão. Por outro lado, nem pensar, segundo o Evangelho, num Jesus sem Igreja e dela desligado: Jesus fundou uma só Igreja, é o Senhor dessa Igreja e age através da sua Igreja à qual concedeu o seu Espírito Santo, que a anima, vivifica, assiste e conduz!
Depois o Senhor confirma tudo isto insistindo: “Se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que quiserem pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está nos céus. Pois, onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles”. Estas palavras muitas vezes são interpretadas de modo contrário ao que o Senhor quer dizer. Quem são esses dois ou três? São a comunidade, a Igreja! Esses dois ou três são o contrário do um isolado que, de modo soberbo, teima em não escutar à comunidade e seus legítimos pastores! O que Jesus quer dizer é que aquilo que a Igreja decidir ele estará ali, com os seus, sustentando-os a orientando-os.
Pois bem! Nestes tempos de tantos ataques à Igreja, de fora e, pior ainda, de dentro, renovemos nossa confiança no Senhor, que doa continuamente seu Espírito à sua Esposa católica, e tenhamos a serena e profunda certeza de que Cristo guia sua Igreja e espera que nela se viva a humilde e livre obediência própria da fé. Nos últimos decênios, alguns falsos doutores, desvirtuando a muitos, ensinaram que a obediência escraviza e aliena. Não! A obediência livremente vivida na fé e no amor a Cristo feito obediente até a morte, liberta e amadurece! A Igreja não deve ser lugar de imaturos, azedos, revoltados e desobedientes, mas sim o espaço sereno e feliz dos que foram libertados para a liberdade de ter os sentimentos do Cristo, obediente até a morte e morte de cruz! Este é o caminho que nos salva e salvará o mundo!

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